Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: abril 2006

domingo, abril 30, 2006

A Dança do Ser

Todo eu sou tu em mim
Como peças que encaixam
Tocamos, mudamos e matamo-nos
Num silencio secreto de voos dóceis
(Dançamos na brisa gelada)
E apesar desta noite ser negra e ardente
Um sorriso é trazido pelo vento
E guardado neste canteiro de espinhos
Com a força desse olhar perturbador
No instante que pára o tempo
No instante que acelera o coração
À medida que percorremos o fim da música
Os dedos desabotoam nos olhos sonhos
Cantamos e rimos (trememos de afecto)
E enquanto nas paredes descem destinos
Os dois… neste momento só nosso
Dançamos unidos a valsa de Abril

domingo, abril 23, 2006

Suspiro

Apeteces-me nestas noites sem dias
Onde o relógio desonra o tempo
És o fogo que consome um Homem
Loucura base de todas as paisagens
Obrigado por ti ó Destino
És o mais belo e puro dos sentidos
Fumado no beijo e incendiado
Numa zona que não é para palavras

quinta-feira, abril 20, 2006

Violeta

Sofrendo por gosto
Mordo a fome do beijo que mata
Num desespero inquietante
Desintegrando o meu corpo
(Sofro, sim sofro)
Quero sentir o teu beijo lancinante
E, o chão a fugir
Asfixiando o meu ser
No errante abismo do corpo
De uma forma tão louca
De uma forma perfeita
Que onde eu sangrar o toque irá crescer
Uma indefesa flor de gestos perfeitos
(Pura espécie e sonhadora)
Indefesa face as vontades do olhar
Contraindo sedes (vontades e desejos)
Beijando as lágrimas
Aspirando vontades
Na terra húmida do sangue cultivado
Onde sopram ventos (suspiros de alma)
À espera de um sopro para viver
E criar raízes no abismo da chama

domingo, abril 16, 2006

Insenso

Submerso o meu ser
Num velho quadro preto
E desenho todo o meu mundo
Com o meu sangue lânguido e sem suor

Acendo a chama
Cartografo e grito

Pequenos flocos de neve
(Oniricos beijos sedentos)
Notas soltas no piano
Tocam únicas melopeias

Inalo em melancolia
Cartografo e grito

Deja vus madrugadores constantes
Repletos de ébrios momentos
Neste corpo quente e parado
Descuidado de cigarro acesso

Efémero solto-o
Cartografo e grito

E tudo no fim é acolhedor
(Múltiplos orgasmos retidos)
Fecho os meus olhos e atento-me
- Sou um sonho adormecido!

sábado, abril 15, 2006

Lua Cheia

Sob o luar sinto dentro do meu peito
O silêncio clamar por sonhos grandiosos
E por entre as sombras abismais da lua
Hoje evoco o teu abraço numa forma só

Diante de nuvens que escondem a lua
Somos dois corpos que se fundem no calor
Tocamos, as minhas mãos também são tuas
E por um doce momento, estamos inteiros
Respirando esta noite sagrada (só nossa)
Como loucos, unos, amantes, amortecidos
Sob uma lua que sangra tal perfume fundo
Ou um narcótico tão leve e suave
Que consome o nosso medo de viver
E nem sentimos o tremendo fardo do tempo

Nesta contemplação que nos rasga o peito
E levita juntamente no bater da sensação
Onde a chama da lua nos ampara e seduz
Na ténue linha insondável da escuridão

domingo, abril 09, 2006

Fecho os olhos

Sinto-me tão disperso neste mar
(Justo) matando erros de tempo
Do relógio feito pelas horas do sol
Afundo-me no tempo
Sou apenas um ponto
Meio-morto pernoito no porto vazio
Por entre as espessas colchas das horas
Enrugado e ilusório, sem forma alguma
Quase não me vejo e o sono mão me serve
Nesta noite velejante de silêncios naufragados
Corto-me e sangro na origem sobre o mar
(Sou apenas um ponto)
Ó pássaros de sonhos de alas rasgadas
Escutem agora mesmo estas preces
Pois se há mistério
No velho espelho cego preso no escuro
Também há lento deslumbramento
De dia
Com as dúvidas da insónia
(Ponto)

sexta-feira, abril 07, 2006

Madrugada

Deito-me ao alto,
e olho em redor
Tudo o que sou, tudo o que sinto
(A extensão permanente do teu corpo)
Fecho os olhos e danço
Hoje danço
Em horas que parecem segundos
Danço a dança feito louco
Danço danças rubras e arrebatadas
Danço!
Danço ao som da tua beleza, danço
De lábios secos e olhar fatal
A tua presença em mim atenua
Todo o excesso, porém és loucura
E danço, hoje danço
Porém não sei como te dizer
Não sei, nem me interessa
Pois assim és perfeita
E por tudo isso, eu danço
Que o tédio da vida
É nós não podermos dançar esta dança
No meio de tal desejo