Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: outubro 2011

quarta-feira, outubro 26, 2011

Poesia com papel

Papel-pássaro aterra só no chão
Regressa a casa soprado pelo vento
Maravilhoso ser de tom ocre carvão

Transformareis em vida esta terra
(Origami congénito caído)
Fertilizando o chão que te berra

Seguro-vos molhada de tal coragem
Sois folha bela, leve e intrincada
Trazes vida em tempo de passagem

Dobro as arestas da folha em V
Encontro dois cantos e fantasias
Desvendo o abraço que não se vê

Abro a mão, desdobro memórias
Trazes em ti um outro tempo
Conténs em mim nossas histórias

segunda-feira, outubro 24, 2011

Outonalidade do tempo

Entre nós não importa o frio desta noite,
Apenas as folhas que caem no tempo
Numa corrida espiral até atingir a terra.

Sopros ceifam a terra, destroem tudo o que passa.
Escutamos o velho vento troando, trazendo notícias
E vemos figuras difusas por entre as luzes embaciadas.

Mas agora pernoitamos aqui, abraço o teu corpo e alma
Destranço-te o cabelo,  aqueço o teu átomo em massa
O pó – Em barro – Argila amassada sem água

Toco e contemplo ser que se transmutou na mão do Oleiro.
Mapeio fina curvas dos seios e seguro as coxas intensas
Abraço despido e adormeço na espiral da morte provada

Embaciada, de manhã a tela marca as cores pintadas na noite
 Impregnado acordo dorido num gélido lugar de silêncio.
Barrentos lençóis marcam onde tudo entoava a tua ausência

Absorvido e amarelado olho para o tecto e escrevo o sorriso.
Queimo no desejo por voltar a alegrar altiva substância
Sacramento de reconciliação da matéria,
Escultura de Outono

quarta-feira, outubro 19, 2011

Zodíaco

A noite está feliz,
Traço na arte das estrelas
Que ardem nesta constelação.
Apaziguantes linhas que fixo
Unindo aquário e escorpião.

Misturo ao pó sobre a face,
A água e a mão.
É tão fácil de longe eu querer-te
Poesia e música entre os astros
Nesta calma concisão

terça-feira, outubro 18, 2011

Ao Amor

Sorrindo fico! De cabeça solta! Ébrio sem álcool
Quando ela simplesmente entreabre os lábios ao beijar-me
E nesta arquitectura descansa a linguagem da paixão
Momento para exaltar, para simplesmente se manter

Neste teste ardiloso montado pelos seres do destino
Trazemos bondade ao melhor dos amores fogos e feridos
Num acto firme de fé, qual prova bíblica feita por Deus
Com seres peculiares guiados por raras forças de atributos

Quero seduzir-te e que me seduzas como a primeira vez
E faremos palavras, sorrisos, historias... tudo isto
Sobre a recém insuportável memoria de não nos termos.
E com amor pularemos como crianças a relação irremediável

Vamos tocar-nos
Vamos beijar-nos
E simplesmente sentir

...A embriaguês começa