Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: outubro 2004

quinta-feira, outubro 28, 2004

desejo noturno

Vem-te escuridão serena!
Nesta caminhada de pedras.
Onde o rio aflui em outras terras
E eu sou morto ambulante
(Pedinte de mãos queimadas),
Sombra fresca da asa do corvo,
Escrevo Nada no pó…
Sou um pecado nocturno.

Só os sons me ecoam na mente,
Descartando logo o pensamento
Que me divide a noite e o dia.
Desejo o tic do relógio,
Odeio o tac do desejo!
Sempre desperto, surdo e mudo
Neste estado de loucura,
Enquanto o tempo passar por mim,
Neste trilho sexual nocturno

sexta-feira, outubro 22, 2004

Rimel violeta

Degradada no altar,
Sangras verdades esquecidas
Como um dardo envenenado,
Escrito por quem não sente.
Só, assistes ao cair da chuva,
Enquanto choras por dentro.
Numa loucura comprimida
Em paredes enfraquecidas.
Fechas-te numa cela, perdida
Com beijos de narcóticos,
(Anti depressivos glamorosos)
Apostando depreender o todo.

Bem tentas deixar este lugar,
Mas nunca encontras-te a saída.
Rosa adorável de cor violeta
Achada num arbusto de espinhos.
Desolada e aqui abandonada
Posso ver o gume frio da tua dor,
Na beleza das covas do rosto

Espelhando a tensão do cortejo
Passado no gelo quente do inferno.

Humedeces um cigarro acesso
Nas mãos feridas e sacrificadas.
Porém hoje ja compreendes:
-O ser é uma alma deformada!

segunda-feira, outubro 18, 2004

Amor violento

Atrás das suas mentes perdidas
No julgamento do amor,
Eles sabem que se amam um ao outro.
Assustados para dizerem como se sentem,
Têm medo de serem rejeitados.


Mentes sonhadoras - lagos de cocaína,
Vibram ao som dopante da guitarra
Tentando ignorar o amor correspondido.
Eles manterão o amor deles bem guardado,
Tão fundo, que nem eles sabem o que é.

Abatidos ao som do tráfego que bate nas duras, e
Desidratadas paredes de betão espiritual.
Ambos têm fraquezas e faltas,
Nem orgasmos múltiplos ou sexos de borracha,
Neste mundo decadente de falsidades os irá salvar,

Pois, não podem ignorar a verdade ao termo, onde
Os opostos se atraem num amor que não chora,
O quadro inacabado do pintor morto,
Mas que uiva por fazer sentir o deleite
Das horas frias que rodam num relógio barato.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Carrasco do meu crime

Sangrando, sinto que somos um só,
Porém eu encontro-me abaixo de ti.
Almas ausentes num olhar cortante,
Dois jogadores forjados,
Cadáveres pecadores masturbados,
Imolados numa dança sexual,
Sodomizados desde a criação.

Sombra gélida, paralisada,
Venera e suga a minha alma,
Estou entregue à tua inspiração.
Eu oiço o gemer, tu queres-me dentro,
Mentecapto sexualmente.
Em meu domínio da dor,
Controlo o teu desejo de amor.

Raspando, lavo a mágoa,
De uma historia desequilibrada.
Eu virei um desenho desesperado
Preso num asilo, caminho para a morte.
Absorvido no odor da decadência,
Aguardo o deleite das lágrimas íntimas,
E sangrarei a dor como nunca.

Sufocado no cheiro pálido do ar.
Bem fundo tu me sentes,
Dilacero o teu útero, oiço o teu gemer.
No caminho para a morte,
Mil venenos matam por ti,
Pingam num aperto sádico
O suor devasso do teu tecido.

domingo, outubro 10, 2004

Jardim artificial

Hoje encontro-me asfixiado...
Não consigo dormir!...

Oh, Doce esquecimento!
A cada minuto que passa,
Decresco nas cinzas
Do cigarro que consumi.

Só, e perdido no pensamento,
Foco o dia como se fosse o último.

Com um pulso dorido,
Sete páginas escritas, e
Desabafos cortados a frio
(Tento desprender o corpo).

Contamino o ar,
Enfraqueço rapidamente.

Caminho pela estrada,
Degolo o vinho bizarro, e
Desenferrugo a mente,
Num cheiro eclipsado pela dor.

Atrás do cheiro forte de urina,
Esconde-se o meu corpo.

O desespero da realidade leva-me à loucura,
Onde os argumentos não tecem.
Sou sonho que não dorme,
Não significo nada para mim!

Oh, lua cheia, mente vaga e fria,
Não me olhes assim!

Quero dormir, fugir do vazio.
O frio faz-se sentir lá fora,
Mas eu não consigo sentir...
Sou um lápis quebrado!

domingo, outubro 03, 2004

Preparo a arma

Apresento-me mórbido diante de mim.
Sou a bela desgraça,
Preso nesta vida maníaco-depressiva.
Não há saída,
A dor e o sofrimento são a única solução.
Sou verso escrito,
Perdido nas ruas de Lisboa,
O poeta que me escreveu,
Rasurou o conteúdo.
Só quero morrer, e afastar o tumulto.
Estou só, e ninguém quer saber.
Cigarro apagado, mente esquentada,
Risos eternos, prazeres momentâneos,
Lápide navegante, ninguém me compreende,
Velas abertas, nenhum porto me acolhe.
Mergulho numa escadaria interminável,
Não quero sofrer mais.
Para converter tudo melhor, tenho de morrer.
Perdi tudo o que era marcante na vida.
(Desmaio em bocados)
Dói todos os dias, a contradição do todo,
O vazio não vai embora, e as dores não curam.
Não há tempo para dizer adeus,
Olho-me ao espelho, estou morto,

O meu tempo expirou…

...POW

sexta-feira, outubro 01, 2004

Cognome da morte

Epíteto do óbito,
Cognome da morte.
O sol está resplandecente,
Mas a escuridão é meu dia.
A morte está nos ossos,
Como o chiar está para os corvos.
Mas a minha esperança não vive mais,
Eu fechei a solução,
Os meus pulsos estão doridos,
Não há razão para viver.

A morte transfigura-se,
A vida sai da linha.
Sinos ásperos brotam da terra,
E a humidade que precipita a chuva,
Transporta o pranto.
O falecimento chega com esse som,
Sem corpo, rosto e roupas,
Porém podemos escutar os seus passos,
Num som silencioso, como o das árvores,
A invadir o som da carne.

Epíteto do óbito,
Cognome da morte.
O meu coração foi-se,
Os meus olhos estão despojados,
São um imenso buraco sombrio,
Sombrios como carvão.
A minha alma foi,
Para um lugar tão distante,
A dor partiu (perpétua cicatriz),
Agora recordo o passado.

Amparo uma rosa,
Assisto à sua frágil morte,
Tanta beleza,
Escondida atrás de mentiras.
Amor eterno, vives no belo,
Não ardes no purgatório.
Eu tenho outra beleza,
Não pensem que é uma mentira,
Uma beleza
Que não pode ser vista com os olhos.

Eu não posso derramar lágrimas,
Pois elas secaram, nos tempos incontáveis,
Que eu me sentava e chorava.
Agora que eu derramei
A minha ultima lágrima,
Continuar esta jornada é meu maior temor.
Eu não desejo ver um novo amanhã,
Pois eu fui afogado nesta mágoa.
Epíteto do óbito,
Cognome da morte