Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: outubro 2009

sexta-feira, outubro 30, 2009

Depois de menino

Na penumbra da noite descanso sem rumo
Pensei ter encontrado uma razão para viver
Tal como antes, quando era uma pobre criança
Onde amarguei durante anos para hoje sofrer
E transformar a voz num silencio enclausurado
Dando-lhe vida fora de um lindo êxtase mutuo
E neste meu amargo fado de destino incerto
Discreto arrumo palavras escritas no coração
Encravo letras, lamento lágrimas de sangue
No anseio de soltar o sorriso mais belo perdido
Acostumado após a dor de menino

quinta-feira, outubro 29, 2009

Sorriso Cardiaco

Ofegante amanheço e respiro a minha história

Acordo no hospital, padece-me o corpo de escrever
Tomo aspirinas, paracetamol, e um fármaco qualquer
Danço na memória, naquele passado nunca esquecido
Danço tudo em mim, danço comigo mesmo, danço

Movo os meus olhos fechados à tua procura, lua
Luz que me abarcas, incendiando delírios e loucuras
Movimentos de luz sobre um corpo que se move
E dança, desenhando a noite e sorrisos de rostos

Risadas ecoando ao vento entre os galhos das árvores
E dançam, dançam tudo em mim e dançam comigo
Arrasto os pés descalços na relva na esperança de ser
Sombra de vento no meu movimento preso à terra

Raiz que baila, quebro-me incógnito na floresta
Sob uma chuva torrencial que não me deixa respirar
Procuro as gotas inclinando-me para o céu e sorrio
Grito como fera, embalo o corpo em paços estranhos

Conduzo-me passo a passo em teu encontro e abraço
Danço uma última vez, danço no seio agudo da terra
Num campo aguçado danço, descendo em espirais
Na esperança de ser harmonia numa paz universal

(Sacodem-me as drogas e acordo lento em susto)
Fraco, abro os olhos e vejo, hoje não danço mais
Sorrio, pois em tempos fui rocha, terra, ar e chuva
Dancei, dancei, dancei

terça-feira, outubro 27, 2009

Sob o Impensável

Não consigo!
Não pretendo mais retomar o ponto.

Estarei eu agora morto?
Ate mesmo deus está morto!

Resta-me uns trocos e um cigarro partido
Garrafa de vinho no chão, borras no copo
Uma foto sem sentido faz de lua num quarto sem luz
Ensurdecido pelo som do computador

Só, caminho na prosa da languidez dos sentidos
Despertos pelo aroma de um incenso barato
Sou um último ordenado, mudo como um mosteiro

Inspiro este cheiro como um crime de êxtase

Tento sair da firmeza do fumo para viver a vida
E sinto o perigo de um grito lindíssimo invisível

Como o eco de uma batalha que já terminou
Desabo no tempo de um mundo que está em causa

Gritai, digo, Gritai!
(Ecoam imagens, figuras, por entre o olhar)

Não consigo chorar o nascimento da morte.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Incessante fruto do bosque

Alimento-me do meu corpo, concentrando-me no meu ser.
Paro!...
Sem rosto não consigo olhar para mim mesmo,
Nem beber para esquecer.
O que me resta?
Nos dias de hoje o que resta é o teu olhar,
Porém a única resistência do outro é o olhar.
Então escuto,
Escuto todas as espécies de símbolos excêntricos na pele,
Que tiram ou acrescentam origens
Colocando-me pois senão numa postura ambígua.
...
Sinto-me mal, talvez doente
Quero desfalecer e cair no chão,
Pois a minha presença gera incómodo
…Inspiro!
E sem soltar o ar
Num inóspito destino clínico inicial,
Quero dizer adeus ao corpo
E que um dia foste meu

Aparto-me de ti eterno
Sem nunca dizer adeus
(Eterna paixão imprevista)
Desvendo o drama ceifando
O eu que incessantemente fomos nós