Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: janeiro 2005

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Voyeur orgânico

Silenciosamente contigo
Noto a prisão do teu corpo
De uma forma afastada
No deleite da masturbação
Dormes assassinada
Evadindo-te de ti própria
Em colchas sujas e grossas
Num corpo velho e curvado
Procura sossego na morte
Dos mil olhares e palavras
Que alam prosas na mente
Fechada nessas quatro paredes
Apertadas na abulia da almofada
Triste emocional de Inverno
Jazes nua em sensações velhas
Fixas na luz débil feminina
Que ecoa da tua triste treva
A dor aguda cosmopolita
No sonho da mera carnificina
Escondes lobos nos lençóis
Seda escassa macilenta
Consumo o teu corpo (olho cansado)
Lânguidas artérias do desejo
Desmaio em gozo perto da carne
Sinistro espectáculo de sombras
Coada nas fendas dos estores abertos
Sob a luz amarelada da rua

domingo, janeiro 16, 2005

Fome impura

Penso em mim como uma imagem
Como a lânguida sombra do ponto
Perdido no beco da ilusão prostituta
Sedenta e sem luz no desejo de brotar
Sei que essa dor pesa mas não a sinto
Sou a sórdida existência trovadora
Conformei-me em devanear a vida
Da prosaica dor que treme no álcool
Pois tomo a cada esquina das ruas nuas
Esgotando o grito mudo do passado
Com a face desaparecida nas sombras
Sou o hino vagabundo em pensamentos
(Pálidos bocados velhos interligados)
Numa melancolia húmida projectada
Sobre a finda luz da agonia perfumada
Estou feito sedento ambulante errante
Fenecendo a louca dor no copo de vinho
Esboçado nas cegueiras do eterno adeus
Oh, demente ruína da rua escura cinza
Que dissolve a cor numa noite insana
Pinta a dor no quadro que há em mim

E derrama os sons que bebem dos lábios

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Difusão da morte

Não consigo mais sentir na caneta a chipala do vencido.
Gritos, passos, risos e árvores despidas no meu caminho,
Almas dizendo com lágrimas o que os lábios selaram,
Telas de olhos amarelados divulgam agonias de animais,
Rangendo como seda no seu primeiro feito sexual,
Belas e frágeis sofrem por serem rascunhos de um deus.

E eu (preso neste luxo decadente) sou a profunda agonia,
Sou os restos do nada, choro sozinho, sou a foto já sem cor,
O âmago do ser que nunca gotejou situações maquinais,
Pobre lívido esqueleto, não sigo passos pois conheço o fim.
Mais tarde ou mais cedo não haverá tormento no escrito,
Mas sim no rosto que estuda este palmo candente de tinta.

Dissemino uma realidade vazia nas letras do choro solitário,
Sangrando na vida do observador como um simples pesadelo.
Sinto a resposta calada dos olhos vazios que seguram a folha,
Provando actos inconscientes sobre pesadelos polidos no rosto,
Em missivas moribundas ocultadas num artifício lexical,
Pintado sobre a cruz corrompida no lascivo toque da pele.