Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: agosto 2006

terça-feira, agosto 29, 2006

Cartório das Palavras

Atrás de uma garrafa de vinho
Sacio-me num brilho novo que surgiu
E me faz divagar sobre os teus lábios
No silencio quebrado de doces melosas
Que falam em oco sob a pele falsa do mel
Embriagando-me em olhos cegos
Faringe
Laringe
Traqueia
Esófago
Estômago
Toma conta do meu corpo
E deixa-me ter-te este momento
Torna-te liquido no meu corpo
E em mil tempestades me transporta
Sob a nudez do meu corpo-teu
Ó musa das musas
Silencio de entardecer que me envolve
Grito de árvores
És ar em movimento
Nos confins desta alma alcoolizada
Pelo lindo silencio que me trazes
Nos últimos instantes da minha vida
Faringe
Laringe
Traqueia
Esófago
Estômago
Bebo-te intensamente e sacio a razão
Neste beijo leve de bramidos e sons
Como anunciando o final
Sinto num abraço o meu corpo-teu
Asperamente humedecido
A dar-te a mão neste ultimo beijo
Faringe
Laringe
Traqueia
Esófago
Estômago
E morremos feliz para sempre

terça-feira, agosto 15, 2006

Pouso o arco nas cordas

Congelo por dentro na mordedura da serpente
E inspiro sem mais significados para a Vida
Sinto os vazios da mordida a dizer-se na pele
Sou hoje neblina da lua em nuvens sem chuva
Vivo, mas durmo na palavra descompassada
Perdi a minha sombra da luz (sem notas e sons)
Beleza e melodias que me eram complacentes
Este sabor forte de vertigem corre-me nas veias
E de garras afincadas transporta o meu corpo
Ceifando-me a cada instante que não te oiço
Sob o veneno repleto da inexistência do toque
Toco toadas (agudas preces, vontades de gritar)
Como quem ressuscita deste mar de silêncio
Ateio a fuga a este pensamento envenenado
E peço silêncio…
Ó sangue das minhas veias atende as minhas preces
Hoje eu só quero ouvir tocar a tua respiração!!!