Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: outubro 2005

sábado, outubro 22, 2005

Desconectado

Acho que preciso de tempo (Sei lá!)
Ao som do vento

Um bocado de tempo
Transmutado em volúpia pura
Na densa vegetação citadina
Que desfrutei um dia
Porém hoje nego sentir

E estendo a mão para me aliviar
(Omnipotente)
Eu contra eu
Nesta casa de dores
Quedo, empanturrado em cigarros
O fumo não sobe
O tempo não corre
Cigarros e mais cigarros
Porém, lá dentro encontro nada
(Madeiras velhas e betão)

Rodo a chave na fechadura
(Na altura que aguardo mais de mim)
Abraço escadas em espiral
Beijo profundo as feridas
- Ó frémitos lascivos da rua
Quero beijar teus lábios – ó Vida!

domingo, outubro 16, 2005

Vate vadio

Só… sem nada para fazer
Aniquilo o pensamento

Enquanto passo na rua
E inspiro em silêncio
As cores do movimento
Com um espírito errante

(O silêncio do negro
E o indesejado rubor)
Contemplo o poente
Transponho fronteiras
Abro brechas no papel
Torturo a mente onde moro
Desfaço-me em pó
Sou como um relógio doente
Preso no tédio do momento
Da cópula vocabular

sábado, outubro 01, 2005

Fim de tarde

Expirando o meu prazo de validade
Aspiro a narcótica de uma só vez
Tento decifrar os meus sentimentos
(Descodificar as minhas emoções)

Seja eu sonho ou imaginação,
Jamais voltarei a ser quem fui

Mergulho o corpo adormecido
Reconheço este rosto, tácito e tímido
Pobre alvo canastro de tom vermelho

(Tapo os olhos e continuo a ver-te)

Sonhos em branco, dores inefáveis
Acordado é que eu não quero estar mais

Envelheço nu, enxaguo na banheira
Choro sozinho, lavo-me em silêncio
Grito o meu nome, mágoa asfixiante
(Não sei quem sou, nem ouso tocar-me)

Fotos que falam, sapatos que caem
Tinta já seca, manhã de papel
Uma cor estranha numa quadra velha
Melhor era mesmo -
deixar este Verso só!