Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta

terça-feira, maio 22, 2012

Suicídio do cisne

Olhar vertido… sinto a dor no ventre,
A felicidade tem-me sempre abandonado.
Ballet triste da minha vida…

Lágrimas de coisas, fé, dor e amargura,
Converto-me em tons agudos de piano
Sobre as arestas do papel que foi árvore.

Deliro no porquê da antítese da obra de arte.
Como não dar valor ao melhor que possuímos
E valorizar contínuas destruições do pleno?

Escassos porquês apertam e esmagam o peito
Entre a dispersa luz silenciosa que soluça,
Não suporto mais este sangrar em pontas.

Perdoa-me estranha e incumprida vida
Mas não consegui evitar o futuro negro
Que a vidente destinou para fazer outros voar

…Eram 11 horas e 3 minutos quando caí.
Mas mesmo enterrado vivo murmurarei,
Pois este outro respirar... foi a minha vida.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

A mutação da Ave

Raia o sol na terminação da ave adormecida
Trajada a negro quente por largar a terra fria.
Possui um lascivo bater duramente intenso
Qual ave possuída, entregando-se aos deuses.
Esbracejou
O sereno arfar aberto traía-lhe os lábios secos
(Só queria tê-la nos braços e dar-lhe de beber).
Tal excitação infectou-me, conferindo-me tesão
Intensificante criatura persegue o desejo a sua alma.
Voou
Faleceu suspensa em brilho sobre os homens
E o preto ficou branco de um erotismo pagão.
A leveza da liberdade finalmente pertence ao seu corpo
Metamórfica criatura plana sobre um mundo enxuto.
Pousou
Evidencio nela o cálice de um olhar curioso e sem medo
Animal erótico que santificou a sua antropologia.
Estimulaste a sorte do meu ser indomesticável
Que irá justaposto ao teu corpo
 - Trepar num brinde outro Céu.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Reticências ...

O frio cerca-me como um exército caprichoso
Sinal que os 12 graus de álcool que provi já não cumprem o seu papel.
Encorajo a vida através de actos de fé
Obrigo-me a levantar, sacudindo a poeira da noite agradável
Corro a água pelo corpo
Sou suspeito, sujeito a ela
Visto a grossa lã  - e o cheiro que a compõe
Olho lá para fora - e penso
O sol já aquece as quinas dos ramos congelados pela noite
E fervilha por tarefas ainda secas da minha memória
Necessidades de moldar a vida em algo radiante
Como um fogo entre os homens que procura outro queimar
Sigo uma fé que me transcende, alimenta e dá força
São os três pontinhos que me fazem acordar
Estilhaços do desejo, fragmentos de um Devir.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Quiromante de madeira

A mão existe numa paisagem esquecida
Como que a essência guardada no bolso
De homens sem carácter abertos de espanto
Falando do mundo mas nem se reconhecerem
Pensam que são e sabem criar
Mas a mão permanece fechada
Porque o homem só a vê trabalhar.

Olhemos com mais atenção para tal frágil ser.
Planícies e montes sob ossos, artérias e veias
Expressa-se melhor que a curvatura de uma planta.
Agita cadencias criando harmoniosas figuras
Doces, bailarinas sombras de mistério
Formas que brincam com a luz e memórias
Trazem à palavra imagens de um perdido passado.

Ó amante esquecida do poeta que quer criar
Massa informe de um boneco de madeira
Tento descobrir-te para construir-me de verdade.
Moldando assim com as minhas próprias armas
- Escapo da regalia do que é ser humano.

domingo, dezembro 18, 2011

Estranha forma de dança

Esboço curvas e pontos na superfície do papel
Ritmos líquidos de imperceptibilidade vazia
Pedaços de um ser inexplicável que sou eu.

Fluo na leitosa carne prensada da árvore
Numa musicalidade que me mata e ressuscita
Qual miopia luminosa, nunca me permiti ler.

Agora preparo-me na perfeita imobilidade do ser
E traço tal singular consciência como sacrifício
(A ponta do lápis que quebra perante tal crente).

Inalo e perco-me num complicado ser inacabado
Afio a casca - derramo cinzas e madeira no papel
Castigo a ponta contra a folha e forço-me a sair

Navego no lado de dentro dos meus olhos
(Fito o acto esquivo no gesto que imprimi)
Fechadura de uma enorme neblina que se recusa abrir
Coexisto em metades - convexos olhos misteriosos

Qual é a certa e a errada?


Penso no vazio

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Pedalo

Ceifo o vento como um pássaro
Corto a hora no minuto.
Solto-me da terra
Fumo no Tic
Bebo no Tac
Entranho-me nas nuvens
Ondulo
Marco a pauta do piano
Deixo de ouvir
Falta a luz
Quero sorrir
Caminho pelos meus sonhos
Largo a bicicleta e corro
Corro por nós
Na tua tristeza e silêncio abatido
Seguro-te pelas assas e voamos
Serpenteamos
Emaranhamos
Construímos
Refazemos bem no alto a nossa casa
O nosso ninho
O nosso abraço
Saímos da estratosfera
Estratoferica nuvem da escuridão
Por um minuto, por dia, por um segundo
Por um tempo
Um tempo que não é tempo
Rasgado pelo espaço
Não é tempo
Não é prazo
Somos incomensuráveis
Ilimitados
Delimitados
1,937,858,709,635,469 horas
Biliões de horas
Milhões de segundos
Et-oma
E não há mais ditos nem desditos

segunda-feira, novembro 14, 2011

Primeiro poema das Tempestades

Um novo perfume desperta-me o olfacto
E põe-me a desvendar um fogo hormonal cravado na noite.
Que ar é este? Uivo e corro excitado nos seus rios e caminhos,
Esse aroma que me impulsiona a escutar nas nuvens clarões.
Desejo esse teu bálsamo comandado por um egoísmo animal.
Sinto que sou som, terra, trovoada e trovão.
O que me guia é teu mel esse doce aroma em repouso
Melaço corpo relâmpago, humedeces-me longe da chuva
Extasiando-me ao acariciar tal santuário – fonte despida.
Foste sincera, o céu destapou lá fora
Cessaste a tormenta, inverteste a deflagração.
Proferiste sentenças que clarearam o ímpeto da obscuridade.
Agora acalmo-me na luz vermelha dos anseios enamorados
E decidimos adensar ainda mais a película da sede translúcida
Que chove na pulsão destes nossos incandescentes corações.
Iremos envaidecer Afrodite numa canção que se irá erguer
No profundo som de um orgasmo apaixonado
Em tempestade