A árvore de Sofia
A arte presta testemunho,
Nesta viagem, uma árvore foi plantada.
Creio que no acto de criação o artista é depositário.
Transporta os vários mistérios da fecundidade,
Memórias impessoais de âmbito colectivo
Onde o mais difícil é sempre o mais simples.
Perceberam-se as falsas seguranças do autor,
Houve um confronto com o desconhecido
E tornou-se claro plantar um lugar de segurança,
Gerar vida no deserto impetuoso de uma ilha
(Aceitou-se a morte, intensificou-se a vida),
Rivalizando por certo com o dono da criação.
O mistério desta transmissão perante a vida
Transporta em si um enigma, um cofre de mistério.
Na solidão da terra abre-se a vasta maternidade
(O ser que tenta num vulcão e numa redoma)
E o criador-artista é mediador esse desconhecido
De destino interior, avançou-se num fado fixo.
Oferece-se aquilo que sempre esteve ali
Porém deixa-se por abrir o que é de revelar.
Não é preciso ser budista para abrir novas realidades.
(Dentro do ser nascem o espaços e distâncias)
Estes castelos endógenos são criação da eternidade
Beleza tão pura porém tão pobre e indigente
Brota da terra uma harmonia que deixa meditar
Nesta acção recolhemo-nos em longos silêncios,
Associamo-nos ao sublime do eterno.
Pretende-se que o nativo a atravesse e aceite
Sem o olhar da criança que não entende o mundo
Mas na criação de um sistema, gestos e instantes.
A arte está no modo como escolhemos viver.
Plantou-se atenção para os de lá cuidarem e amarem.
Mas após o acto materno praticado em segredo,
No artista pára a memória de uma tristeza laboriosa.
Que apenas Deus sabia que vivia (isso e os pecados)
Pensou na punição mas concedeu certos milagres
Pois em casa havia quem amava e perdoava a ofensa.
Nesta viagem percebe-se que arte é dar o seu melhor,
E não há melhor dedicação que a Vida,
Pois, nas horas de cansaço continua a haver vento,
E se virmos, a divindade é feita pelos actos dos homens.
É este frutificar, algo belo que começa a nascer
Num confronto entre a alma humana e a natureza.
No crepitar da ilha deu-se sorrisos em terrenos estéreis.
O florir pouco importa mas será recompensante,
Nobre teimosia do acreditar no acto divino praticado,
Como uma crença no futuro ou completude da criação.
Naquela ilha transmitiu-se a imortalidade da vida,
Numa árvore bela e dolorosa de uma gestação sublime.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home