Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: A árvore de Sofia

sexta-feira, novembro 27, 2009

A árvore de Sofia

A arte presta testemunho,

Nesta viagem, uma árvore foi plantada.


Creio que no acto de criação o artista é depositário.

Transporta os vários mistérios da fecundidade,

Memórias impessoais de âmbito colectivo

Onde o mais difícil é sempre o mais simples.


Perceberam-se as falsas seguranças do autor,

Houve um confronto com o desconhecido

E tornou-se claro plantar um lugar de segurança,

Gerar vida no deserto impetuoso de uma ilha

(Aceitou-se a morte, intensificou-se a vida),

Rivalizando por certo com o dono da criação.


O mistério desta transmissão perante a vida

Transporta em si um enigma, um cofre de mistério.

Na solidão da terra abre-se a vasta maternidade

(O ser que tenta num vulcão e numa redoma)

E o criador-artista é mediador esse desconhecido

De destino interior, avançou-se num fado fixo.


Oferece-se aquilo que sempre esteve ali

Porém deixa-se por abrir o que é de revelar.

Não é preciso ser budista para abrir novas realidades.

(Dentro do ser nascem o espaços e distâncias)

Estes castelos endógenos são criação da eternidade

Beleza tão pura porém tão pobre e indigente


Brota da terra uma harmonia que deixa meditar

Nesta acção recolhemo-nos em longos silêncios,

Associamo-nos ao sublime do eterno.

Pretende-se que o nativo a atravesse e aceite

Sem o olhar da criança que não entende o mundo

Mas na criação de um sistema, gestos e instantes.

A arte está no modo como escolhemos viver.


Plantou-se atenção para os de lá cuidarem e amarem.

Mas após o acto materno praticado em segredo,

No artista pára a memória de uma tristeza laboriosa.

Que apenas Deus sabia que vivia (isso e os pecados)

Pensou na punição mas concedeu certos milagres

Pois em casa havia quem amava e perdoava a ofensa.


Nesta viagem percebe-se que arte é dar o seu melhor,

E não há melhor dedicação que a Vida,

Pois, nas horas de cansaço continua a haver vento,

E se virmos, a divindade é feita pelos actos dos homens.

É este frutificar, algo belo que começa a nascer

Num confronto entre a alma humana e a natureza.


No crepitar da ilha deu-se sorrisos em terrenos estéreis.

O florir pouco importa mas será recompensante,

Nobre teimosia do acreditar no acto divino praticado,

Como uma crença no futuro ou completude da criação.

Naquela ilha transmitiu-se a imortalidade da vida,

Numa árvore bela e dolorosa de uma gestação sublime.