Resignação nua e violenta

Resignação nua e violenta: fevereiro 2010

sábado, fevereiro 27, 2010

Sopro inútil

Ecoa no meu ser uma impossível abstracção,
O silêncio na dor do vazio de uma canção.
Não me seduz
Palavras gastas e encardidas como solas
Moendo o meu ego, cerrando-o em melancolia
Sou uma rua sem saída
Trauteando o sossego
Isto foi tudo o que me restou?
Serei nada ou poucochinho?

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Quarto Crescente

Sei que a brisa grita lá fora

Mas há algo que me sussurra à janela

.

Inquieto, limpo o vidro embaciado

E entras directamente por ela.

Forte, depositas-te a nu no meu quarto

Evaporando o frio e as gotas dos vidro.

O gelo que ficou na minha mão

Contrasta com a luz que ferve em mim.

.

Hoje tenho-te entre a chuva da noite

Perfeita, bem no alto do pano escuro

A sombra da terra que te cobre ó lua

Desenhou-te o mais belo sorriso

E eu prontamente sorri também

(Não sou estranho ou estrangeiro)

.

Apenas juntos caminhamos

Unidos em lugares incertos

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Na infância adulta

Masturbam-se línguas e contos,
Desejos e fábulas sobre tais seres
(Qual conto-animal de La Fontaine).
Momento de quadro - é gravura.

Num sublime e longo tempo atrás
Raiaram seres espectrais matinais .
No aconchego arbóreo dos corpos nús
Tocaram-se estes sem sexo e distância,
Almas uivantes no pano da noite, que
Dissiparam as unhas na fria madrugada
Ajeitando-se ao jeito de fetos adultos
E dançaram na luz que rasga os ramos
Ávidos de um calor certo invencível,
Visível no afecto e no beijo no ombro
Eram seres reais de antigos encantos
Com mãos que perturbam por temer
Que o Homem hoje não durma assim.