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Humedecemos entre nós o tal delicado querer
Abandonamos um sonho para ver outro acontecer
Sou verso escrito, perdido nas ruas de Lisboa. O poeta que me escreveu, rasurou o conteúdo.
A arte presta testemunho,
Nesta viagem, uma árvore foi plantada.
Creio que no acto de criação o artista é depositário.
Transporta os vários mistérios da fecundidade,
Memórias impessoais de âmbito colectivo
Onde o mais difícil é sempre o mais simples.
Perceberam-se as falsas seguranças do autor,
Houve um confronto com o desconhecido
E tornou-se claro plantar um lugar de segurança,
Gerar vida no deserto impetuoso de uma ilha
(Aceitou-se a morte, intensificou-se a vida),
Rivalizando por certo com o dono da criação.
O mistério desta transmissão perante a vida
Transporta em si um enigma, um cofre de mistério.
Na solidão da terra abre-se a vasta maternidade
(O ser que tenta num vulcão e numa redoma)
E o criador-artista é mediador esse desconhecido
De destino interior, avançou-se num fado fixo.
Oferece-se aquilo que sempre esteve ali
Porém deixa-se por abrir o que é de revelar.
Não é preciso ser budista para abrir novas realidades.
(Dentro do ser nascem o espaços e distâncias)
Estes castelos endógenos são criação da eternidade
Beleza tão pura porém tão pobre e indigente
Brota da terra uma harmonia que deixa meditar
Nesta acção recolhemo-nos em longos silêncios,
Associamo-nos ao sublime do eterno.
Pretende-se que o nativo a atravesse e aceite
Sem o olhar da criança que não entende o mundo
Mas na criação de um sistema, gestos e instantes.
A arte está no modo como escolhemos viver.
Plantou-se atenção para os de lá cuidarem e amarem.
Mas após o acto materno praticado em segredo,
No artista pára a memória de uma tristeza laboriosa.
Que apenas Deus sabia que vivia (isso e os pecados)
Pensou na punição mas concedeu certos milagres
Pois em casa havia quem amava e perdoava a ofensa.
Nesta viagem percebe-se que arte é dar o seu melhor,
E não há melhor dedicação que a Vida,
Pois, nas horas de cansaço continua a haver vento,
E se virmos, a divindade é feita pelos actos dos homens.
É este frutificar, algo belo que começa a nascer
Num confronto entre a alma humana e a natureza.
No crepitar da ilha deu-se sorrisos em terrenos estéreis.
O florir pouco importa mas será recompensante,
Nobre teimosia do acreditar no acto divino praticado,
Como uma crença no futuro ou completude da criação.
Naquela ilha transmitiu-se a imortalidade da vida,
Numa árvore bela e dolorosa de uma gestação sublime.
Deflagro-me
Provoco excitações no embate do teu corpo,
Exaltações de prazer ou louvor que não cessam.
Não consigo parar este choque profundo do homem,
Que me cega a razão e me torna desejo e animal
(Sublime elevação da carne e do espírito).
Desafias-me
Provocas voltar a ter a ânsia que tens quando te tratas
(Belo corpo lavado que treme entre os seus azulejos).
Falamos conceitos num acto perverso de afecto.
Rasgamos num impacto molhado e metamorfoseamo-nos,
Unidos pelo ardor e pelo prazer dos gemidos e palavras.
Dominamo-nos
Loucuras de dois, chicoteiam-se num sublime acto único
(Mãos roídas que me apertam o quadril e rasgam).
Exaltas impulsos que agito dentro do teu ser,
Fervemos loucuras, movimento-me na ebulição,
Choramos e rimos não-palavras que são desejos!
Silêncio!
Embalados, num aperto amparamo-nos unidos.
Abrigas-te segura no abraço mais aconchegante da tua vida
(Selando quem mais te protege no leito da tua alma).
Pois entendes que é possível sustentar adversidades
Na protecção do mais intenso coração que te adora!
Olhando para vocês, diriam que sou poeta.
Aspirando em silêncio cada suspiro meu,
Perversos, escutam as minhas expansões.
Talvez já não me lembre, sou rua deserta,
Sombra de um piquenique calado e triste,
Duvido da minha origem, se foi uma morte.
Pedras de calçada queimam por lampiões.
Sinto presa na escuridão a tal melancolia,
Talvez de um anjo que alguém despertou.
Larguei as asas em prol da tua felicidade,
Murmurei imagens no teu cabelo escuro.
Tornei real, o sonho remoto de uma menina.
Como um bom vinho num copo só teu,
Numa cidade que só de ti tenho como bela.
Ó musa sombria que avivas as palavras em mim.
Caí do céu no pranto amargo da tua oração,
Toque que porta que reconheci como: é este!
Plantaste a semente de uma fadada sacra flor.